Sul em Movimento 

Na Região do Contestado cem anos depois



"A terra não pertence ao homem. O homem pertence à terra."

Máxima atribuída à liderança indígena Sealth em carta-resposta ao presidente norte-americano que propôs comprar as terras de sua tribo em 1854.

MST e MAB marcham e realizam ato em Abdon Batista, Santa Catarina


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Na tarde de sexta-feira, 10 de junho, centenas de companheiros e companheiras do Movimento Sem Terra e do Movimento dos Atingidos por Barragens marcharam por 6 quilômetros até o centro de Abdon Batista, na região sul do planalto de Santa Catarina, e realizaram ato contra a construção da barragem da Usina Hidrelétrica Garibaldi. O objetivo da manifestação é conscientizar a população da local da importância de lutar por seus direitos coletivamente. Pois até o momento a empreiteira Triunfo, responsável pela construção da barragem, tem negociado ou expulsado individualmente os agricultores de suas terras que serão alagadas ou ficarão secas se a obra for concluída. No mesmo dia o MAB encaminhou carta à presidenta Dilma Roussef.

O ato foi realizado na praça central, em frente à prefeitura e a população parou para ouvir as manifestações. Os trabalhadores da obra também saudaram com palmas os lutadores do povo. Os deputados Pedro Baldissera e Luci Choinacki, apoiadores das causas populares, estiveram presentes no ato e fizeram os primeiros contatos com as autoridades e com o empresário para que recebam logo os representantes dos Movimentos. O Movimento dos Pequenos Agricultores também esteve presente prestando toda sua solidariedade.

Paralelamente ao ato foi realizada audiência pública em município vizinho, Anita Garibaldi, com representantes dos Movimentos, da empresa e juiz agrário. O resultado deve sair nas próximas horas. A empreiteira já entrou com pedido de reintegração de posse na área do canteiro de obras.

Desde segunda-feira os Movimentos ocupam o canteiro de obras e paralisam a construção da barragem da Usina. A reivindicação é que seja aberta negociação imediata com a empreiteira e com o Governador do Estado de Santa Catarina. Também desde o dia 6 de junho o MST ocupa um latifúndio no município vizinho, chamado Cerro Negro, e o acampamento foi batizado Terra Nova. A Reforma Agrária está em pauta sempre no país com os maiores latifúndios do mundo, o Brasil. Na região, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) já vistoriou algumas áreas que poderão ser desapropriadas e destinadas ao povo Sem Terra.

Até que sejam atendidas as reivindicações dos trabalhadores os acampamentos continuarão mobilizados. Águas para a vida, não para a morte! Terra para quem nela vive e trabalha!

Despejo na Grande Florianópolis - Comunidade Frei Damião - Palhoça - SC



Na tarde de ontem, 10 de maio, a Defesa Civil, escoltada pela Polícia Militar-SC, demoliu duas casas no lado leste da Comunidade Frei Damião, em Palhoça, Grande Florianópolis. As casas foram destruídas enquanto os donos estavam no serviço. A Comunidade está se organizando e teme novas investidas do Poder Público contra suas casas e suas vidas.

A exigência mínima da população é que a Defesa Civil apresente tal "ordem", com a qual expulsou as famílias. As demais exigências são para saber quais os planos da Prefeitura para a região do bairro, que abriga aproximadamente 300 famílias. A exigência do povo é fundamentalmente ter segurança de que pelo menos a sua casa esteja de pé quando retornar do serviço.

Uma das famílias que tiveram as casas destruídas é a de Adair da Silva Xavier, 24 anos, duas filhas, carpinteiro e casado com Jaqueline da Silva Silveira, 18. "A gente não pode é ficar na rua. Esperamos construir uma casa". Ao chegar do trabalho viu sua casa no chão e esposa e filhas acalentadas pela vizinhança.

Veja Reportagem da TV Record feita simultaneamente à nossa.

Câmera 1


Câmera 2

Abril Vermelho: Luta pela Terra em Santa Catarina

MST ocupa dois latifúndios em Santa Catarina

15 de abril de 2011


Por Fábio Reis, Leandro Dal Bó, Pepe Pereira dos Santos, Rui Fernando Neto - Setor de Comunicação MST-SC
Diretamente de Curitibanos
Da Página do MST (acessível aqui)

O MST de Santa Catarina realizou duas ocupações na manhã desta quinta-feira, na fazenda Xaxim I, localizada no município de Curitibanos, com 150 famílias, e da Fazenda Batatais, com 100 famílias, em Mafra.

No clarear do dia homens e mulheres participaram juntos da confecção de suas casas, na construção de barracos cobertos de lona preta, enquanto crianças brincavam correndo por terras improdutivas.

O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) classificou a fazenda Xaxim I como improdutiva, em vistoria realizada em 2009. No momento em que os acampamentos começavam a ser montado, uma comissão formada pela direção estadual do MST estava em reunião em Florianópolis com representantes do Incra, para reivindicar o direito das famílias a ter acesso a terra.

Não somente o direito a terra, mas aos meios para nela viver e produzir. Na reunião, também foi discutido o caso das oito áreas que estão em processo de vistorias no estado.


No ar

No dia 11 de abril, a comunidade do assentamento Pátria Livre fez a tão esperada e sonhada ocupação do ar, com a rádio Voz da Terra FM, no município de Correia Pinto.

Foi erguida uma antena no assentamento Pátria Livre, no qual jovens constroem juntamente com suas famílias e apoiadores do campo e da cidade a rádio comunitária.

A rádio atualmente está operando em caráter experimental na frequência 105.1, com a outorga do Ministério das Comunicações.

Cláudio Damasceno, um dos integrantes da rádio, contou que se orgulha de ser agricultor, pois considera uma das mais valiosas atividades, mas que a rádio tem um papel importante de fazer a relação daqueles que produzem alimentos de qualidade com a população das cidades.

Originalmente publicado em http://www.mst.org.br/node/11573


Mais informações das lutas multiterritoriais na página do movimento:

Cercas não impediram a chegada da primavera


A primavera chegou, animou o canto dos pássaros e trouxe à flor da pele a estação da geração da vida. Com a lua cheia e as chuvas de outubro os agricultores tradicionais e os sem-terra de Imbituba fizeram sua parte. Semearam na terra aipim, mandioca, melancia, feijão, cenoura, muitas outras variedades e salsinha para dar ainda mais gosto.

A horta já está produzindo e as roças crescerão durante o verão. Também é época de peixes saborosos, como a corvina. A pesca em Imbituba tem sido farta. E depois de um inverno de batalhas rigorosas contra um despejo ilegal (conforme se pode ver em mensagem sobre ação do Ministério Público) a paz ainda é um sonho futuro. A resistência agora se ocupa em produzir frutos da terra e trazer você para esta luta dos trabalhadores.

Amigos, camaradas ou caros leitores que ainda não apareceram na Zimba, como é carinhosamente chamado o município de Imbituba, venham! É rapidinho pra chegar e serão muito bem recebidos com toda a humildade de um acampamento sem-terra. Pra achar os Areais basta pegar à esquerda na rótula antes do porto e seguir por 1km até outra rótula, pegar à esquerda de novo e seguir pelos Areais até avistarem os galpões da Associação Comunitária Rural de Imbituba (ACORDI), ao pé grande da duna florestada.

Foi o que fizeram os artistas da Udesc, em especial o Coletivo LAAVA (Laboratório Aberto de Animação e Vídeo Arte) no último final de semana. Vieram em seis carros cheios, conhceceram, foram à praia, plantaram, cantaram e contribuiram desenvolvendo peças e um forno de cerâmica. Obra que vai continuar promovendo a organização e a solidariedade entre os trabalhadores.

Antes do Despejo

Crônica de um Mandado de Despejo - 3 de julho de 2010




Por Pepe Pereira dos Santos, Leandro Monteiro Dal Bó e o grupo de solidariedade às comunidades tradicionais de Imbituba

Tarde de uma quinta-feira, véspera de jogo do Brasil na copa da África. Em Imbituba, sul de Santa Catarina, sul do Brasil, o que está em campo no sítio do Sr. Antero Francisco Cardoso na Volta da Taboa, nos Areais da Ribanceira, entrada da cidade, é outra escalação. Perú, cabras, bois, cavalos, galinhas, jegues, cachorros, universitários, sindicalistas, amigos, parentes, ativistas do MST, todos contra o dilúvio de uma ordem de despejo requerida pela justiça.

A ordem judicial é contra agricultores tradicionais de uma área de 240 hectares. Aqui existe a ACORDI, Associação Comunitária Rural de Imbituba. Essa verdadeira Arca de Noé, que é a pequena propriedade do Seu Antero, de 3 hectares, já sobreviveu a outra tentativa de despejo a 4 anos atrás, quando a família teve a casa queimada por jagunços do que se dizia proprietário destas terras. Terras há décadas cultivadas por cerca de 80 famílias que têm como principal atividade, o plantio e o beneficiamento da mandioca.

Portanto, a resistência a esta nova tentativa de despejo faz com que a Dona Aurina Abreu, esposa de Seu Antero, esteja com os nervos bastante abalados. Temerosa dos desfechos dos acontecimentos, ela saúda e cumprimenta com certo alívio a chegada de cada um que vem para se somar ao pequeno grupo de solidariedade. Entre estes está Rui, ex-sindicalista, militante da brigada urbana Mitico do MST, morador da região. Preso arbitrariamente enquanto ajudava na organização da ACORDI, juntamente com a atual presidente da associação Marlene Borges e o bacharel em direito e agricultor Altair Lavratti, membro da direção estadual do MST.

Foram presos e algemados, acusados de formação de quadrilha e de estarem organizando invasão das terras que já são ocupadas por esses moradores há décadas. Essa prisão, na época, foi contestada por todos, inclusive por setores da própria polícia de SC e Federal em notas oficiais, publicadas nos veículos de comunicação, com repercussão nacional e mobilizações de várias organizações em defesa do direito dos presos e da comunidade tradicional local. Depois a justiça veio a questionar as prisões. Hoje todos os presos abriram processos contra o Estado, pedindo reparação. Vale frisar que Marlene, a presidente da ACORDI, está grávida; gravidez de risco, sabidamente. Foi presa em sua residência às 6 da madrugada em uma operação de guerra montada pela polícia que cercou sua casa acompanhada por uma equipe da RBS.

Difícil reparar os traumas de um evento dessa natureza, magnitude e violência. Os presos ficaram incomunicáveis durante 12 horas em locais não sabidos pelos familiares e advogados, violando flagrantemente as leis criminais e a própria Constituição.

É, portanto, explicável a expectativa desse pequeno grupo que se reúne em solidariedade ao Seu Antero nessa véspera de dia de jogo da Seleção de futebol Brasileira na copa do mundo. Aqui o jogo dos adversários é duro. E pelos comentários, está prestes a acontecer.

O mandado de despejo já foi expedido. Os moradores temem que tais mandados sejam executados após a Sétima Feira da Mandioca realizada em Imbituba na sede da ACORDI nos dias 24 a 27 de junho de 2010, no fim de semana último. Evento que reuniu milhares de visitantes vindos da região de Imbituba, de outros municípios, de outros estados e até de outros países. Autoridades estaduais e federais. As autoridades locais estiveram presentes com apenas o secretário municipal de agricultura. Parece que estas estão no time dos adversários. A elite local pretende que no espaço aonde vivem os agricultores, que dali tiram seu sustento, seja construída uma fábrica de cimento da Votorantim. Além de empreendimentos imobiliários de alto padrão.

As terras, que são originalmente da União foram negociadas de formas suspeitas. Localizam-se entre o mar e a BR-101. O que atiça a cobiça e a pressão legal e ilegal para que os moradores e agricultores abandonem suas terras.

Final de tarde, quase noite. A expectativa continua no grupo de solidariedade. A noite vai ser longa na casa do Seu Antero. Muitos convidados ficarão para dormir.

O temor é que o despejo ocorra enquanto todos estão com a atenção voltada para a copa. Amanhã às 11 horas, horário local, a Seleção Brasileira entra em campo. Aqui nas Areias da Ribanceira, Seu Antero já está há muito tempo neste campo, neste jogo e para ele e a Dona Aurina, essa é mais uma jogada, mas a expectativa é grande. A diferença é que ela traz o medo da perda do seu espaço de vida.

Enquanto todos os olhares do mundo se voltam para a copa do mundo na África do Sul, em Imbituba, Santa Catarina, sul do Brasil, o mundo de dezenas de famílias pode acabar. Aqui o resultado do jogo é mais arriscado. É tudo ou nada. Como final de campeonato, para uma linda região, uma comunidade tradicional, expulsa do campo, fica fora de jogo como milhões de excluídos da terra. A terra sem estes guardiões tem o seu meio ambiente ameaçado. O cartão do juiz não é o vermelho. Parece mais o verde dos dólares que move os interesses nesta região portuária. A “Arca de Noé” de Seu Antero é todo um modo de vida que pode ser levado pelo dilúvio dos interesses do mercado.

Sexta-feira, 2 de julho. O grupo está na expectativa de que o caso se resolva em favor da maioria comunitária não dos interesses da minoria especulativa. A Seleção Brasileira foi derrotada e volta para casa, mas o povo continua em luta e permanece em resistência.




(Ɔ)  Sul em Movimento. Todos os direitos reversados! É livre e estimulada a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída. Fotos: Pepe Pereira dos Santos. Diagramação: Leandro Monteiro dal Bó. Textos: Rui Fernando Neto. Outros autores indicados no texto.